sábado, 11 de maio de 2013






Umas das fotos mais bonitas e simbólicas que tenho da minha infância. O meu avô a atar-me os sapatos para não cair, haverá melhor metáfora que se adapte ás circunstâncias da vida? Ainda sou esta criança não sou? Pois claro que sim, e se ele ainda estivesse vivo decerto que seria o seu netinho pequenino para proteger e guardar. Não nos fazemos homens e deixamos essa criança para trás, nunca...ela fica lá sempre bem guardada. Às vezes está muito só ou estragada, outras vezes reprimida ou desvitalizada. O meu avô era um pai. Às vezes era avô e outras vezes tinha alturas em que parecia estar a agir com o pai para mim e eu via-o como um ser abrasivo de coração-sabedoria - hoje chorei por ele, e foi tão bonito. O refinamento do teu sofrimento é um autêntico invocador de fé. Hoje, fui até ao cemitério, sem mesmo saber por onde ir e apeteceu-me a companhia de um amigo. Bastou chegar ao monumento físico em honra de sua memória e não me contive. É-me raro chorar compulsivamente. Muito raro, ainda do mais, quando é espontâneo, mas após o caminho todo a me conter...Libertei-me até aos céus. Das centenas de almas que estavam ali ao meu redor, eu estava ali apenas com ele, na companhia dele. Parecia estar dentro de uma casa feia do seu amor que me acolhia com palavras ternas e doces. Há coisas tão intensas. Liberto tudo o que há em mim para que chegue ao meu avô na forma mais pura e desinteressada de amor, sem dramas ou esquemas, sem desespero, sem filtros mentais; que venha de um coração puro e que chegue à morada imaterial que o constitui e o envolva de humildade, de um belo ser que ele conheceu nesta vida e que adorou a bela e curta aprendizagem que teve com uma alma educada e responsável. Amo-te.

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